28 de jul. de 2023

Masking

Em cada escolha outra tentativa.
No curso frio a probabilidade
de ser suspeita a disparidade 
da nossa falha contraintuitiva...

Como em teu rosto a complexidade
torna-se oculta e contemplativa,
qual é o valor da tua identidade 
mesmo que seja ela punitiva?

Frequentemente esses impostores 
emulam gestos e assumem cores
despercebidos em sua maioria.

E eu controverso e divergente 
só aqui contigo sou transparente:
todo nudez - todo anomalia...

Bioma

Verdes manhãs, filhas do inverno!
O pássaro compõe, o vento inspira
folheando esse Tolkien sempiterno 
como uns dedos a ferir uma lira...

Sou do triste idílio um subalterno
e da minha toca aponto a minha mira
e disparo ao silêncio e ele terno
dá de ombros, sorri e também suspira...

Oh, velhas deidades circundantes
deste vale onde nós somos amantes -
Montanhas que vigiam o meu coma.

Lentamente transfiguro-me com calma
decompondo minha pele, minha alma
sobre o leito pueril do teu bioma.

18 de jul. de 2023

O retorno é um jazz fácil.
Suave voz abraça meus sentidos,
deixo o papel de Atlas para outro,
embora tenha os ombros sacudidos.

E dizes: o ruim se queima só.
E penso: tudo é relativo,
estando em Tróia não fui troiano,
como quisesse não estar vivo.
...

Perco-me no que é real,
mesmo que meus olhos vagos 
tentem, inúteis, decifrar
a propriedade dos afagos.

Mas esses olhos doentes 
que julgam seus movimentos
preferem ver as ondas do mar
onde dorme a alma dos ventos.

15 de jul. de 2023

Avulsos Atípicos II

I
Se a paz está no silêncio
abrir a boca é para as feras.
Se a ti minha boca alcançar,
minhas desculpas sinceras!

II
Quem me dera um interruptor
neste circuito de pensamentos!
Disse outra voz entre as emoções 
que aprendi com os desatentos.

III
Ensaio no espelho 
outro "bom dia" normal,
um "boa noite, meu chegado",
mas sempre fica sem sal.

IV
Você não poderá evitar 
o movimento robótico!
Você não poderá refutar 
outro argumento lógico!

V
Sobressaem os negativos 
que tendo a remoer,
por enquanto os positivos 
tendem a se esconder.

VI
O cântico dos sonhos 
ecoa nos místicos 
campos dos Anjos 
ansiolíticos...

12 de jul. de 2023

Avulsos Atípicos

I
É sobre mim este poema.
O perfume - WD40.
A consciência um sistema 
operacional dos anos 90.

II
Ando desse jeito
num passo enlatado,
se apresento um defeito
não fico triste, mas enferrujado.

III
Ensaio sorrisos em reflexos.
Será que sou humano?
Tento acompanhar a normalidade 
e esse é todo "Plano".

IV
A dúvida segue meu rastro
calma e constante 
encaro o seu rosto altivo,
incompleto e delirante.

V
Um verso ou melodia 
num ciclo que sempre ecoa,
um gesto que me transborda 
que sempre faço, embora doa. 

Sempre esteve escrito 
sem entrelinhas, sempre 
esteve por cima dos panos
e nunca deixaste
teu olho vítreo e escuro 
repousar ali.

Sempre esteve fácil 
como a sua própria sombra,
próximo o bastante
feito uma sombra,
tão verdadeiro e falso -
uma sombra...

Sempre esteve impuro 
jogado às três cabeças 
do cão que nos olha de volta 
quando olhamos para o abismo,

Como um brinquedo 
passando de mão em mão
contemplando novos inícios 
de realidades esteve, o Sempre:

O deus, a singularidade, a questão...
O poema rolando a pedra morro acima.

Nem a tristeza ou alegria, nem o mal,
nem os pontos cardeais, nem o bem.

Só o sempre,
seu nome - um verbo 
sendo escrito.