1 de jun. de 2020

Era tempo de festa. Todos estavam envolvidos nos preparos. Os que cuidavam das comidas esplendiam risos, trocavam piadas repetidas. A música alta no aparelho de som. Era engraçado quando toda família se reunia. Duas primas arrumavam a mesa com flores...
Eu estava na praia com ela. O mar encapelado rugia e chacoalhava sua juba de espuma perolada...

Era madrugada quando cheguei em casa, a festa já tinha acontecido, tudo estava calmo e sonolento. Um pote de comida na geladeira com meu nome escrito nele. Ouvi passos, corri para ver... (neste ponto houve um bloqueio mental, não sei dizer o que vi na escada.)

Agora eu estava no banheiro, mais certo seria dizer: estávamos no banheiro. Eu me observava no banho, mas já não era eu, não era... minhas verdadeiras mãos tentavam escapar daquela prisão de vidro, o que eu realmente era estava preso dentro do espelho. Aquele outro agora se secava com a minha toalha, vestia minha roupa e se dirigia ao meu quarto, onde certamente o meu grande amor dormia! No entanto, meus esforços não foram em vão. Quebrei a prisão de espelho e me reuni com meu corpo, o que desencadeou um estranho fenômeno onde os móveis, os livros, as roupas, chinelos, tudo parecia flutuar e rodopiar numa dança macabra, as luzes chispavam relâmpagos que escreviam palavras incompreensíveis na parede e no piso...


Vírus


Eu sou o toque que transmite o vírus,
teu corpo todo quero possuir,
pois é assim que eu sobrevivo,
eu só preciso me difundir
no teu cabelo preto de naquim
vou expandir o mapa do meu jogo,
quem sabe um dia chegarei ao fim?
quem sabe eu tenha que tentar de novo?

O meu discurso é persuasivo,
quem me despreza vai me conhecer
e cedo ou tarde será consumido
e derrepente desaparecer...
Quem acredita ser superior
talvez não saiba o que é ser forte...
quem sabe eu tenha que usar a dor?
quem sabe eu tenha que causar a morte?

Se fatalmente eu te encontrar,
seja no ônibus ou no metrô,
basta um beijo pra te infectar
com o que penso ser o meu amor!
Porque a vida é mesmo assim - cruel.
E todo mundo finge que não sabe!
Porque ninguém quer mais olhar pro céu
pra descobrir o que é eternidade?...

E você pode me chamar de vírus,
a ignorância será  meu prazer
quando teu corpo se tornar cativo
e quando a febre te fizer sofrer,
uma lembrança do seu grande amor
talvez te cure, talvez te conforte.
Quem sabe eu tenha que usar a dor,
Quem sabe eu tenha que causar a morte?

Quem sabe eu tenha que usar a dor,
Quem sabe eu tenha que causar a morte?