25 de jun. de 2023

 No quadro que pintaste 
na tela da tua mente
não sabes, mas trancaste 
a imagem diferente
do que presumo ser.
(E sendo, pouco insisto.)
Traçaste um bem querer 
nos moldes do teu visto.

Bem sei que a arte é falha 
e muita vez se engana 
transforma uma migalha 
numa fartura insana,
porém, minha alma viva,
me causa desconforto 
tua grande expectativa 
sobre este corpo torto...

Disponho, lastimável,
de estranhos arsenais 
beirando o inaceitável,
ao passo que os normais,
com tanta conjectura
tal qual posso inferir,
estão na longe altura 
que não me ouvem rir.

E mesmo assim colores 
a imagem que encarcera 
a antítese das dores 
que o tempo dilacera,
porém, oh bem amada
bendita sempre seja
tua mente que me enquadra,
tua boca que me beija.

8 de jun. de 2023

 Ora, se não sou o astro em mim
afogado em mim, 
intraduzível?!

Logo aquieto
as minhas intenções sublimes.
Nada em mim é sublime 
e o que desprezo
é análogo à minha essência.

Uma fração qualquer -
nem poeira cósmica,
nem barro edênico.
Em mim somente a consciência
me separa da selvageria estúpida,
mas não me livra 
da estupidez do ser.

Ora, se não sou o mais paupérrimo 
empapado de vaidade, crendo-me raro 
entre enjeitados,
em meu cubículo mental?

Ah, demente pedestal!...

Enquanto isso - Eis o sol
a estender suas fitas douradas 
para a festa do verde idílico,
dos faunos e das ninfas,
e os deuses estruturais são saudados
para um novo ciclo de dor e de sorrisos.

7 de jun. de 2023

 I

Os observo. Do meu covil silencioso 
busco capturar o sentido 
da minha própria ínfima existência 
apenas sendo o contrário... 

Quanta similaridade física!
Nada mais. Há partilha no bando
e suas intensões são claras, 
por mais medíocres que possam parecer.

Então balanço minha pedra afiada 
forçando meu corpo ereto,
sobre a savana imponente caminho,
consciente, atônito e primitivo.

II

Nunca estarei entre meus pares.
Isso posto, invisto em reflexões 
que mais flores do que números 
me trazem...

Nunca estarei entre meus pares.
Ao nascerem, meu corpo e consciência,
destituídos de ferramentas comuns,
apenas emulam a normalidade típica
dos típicos.

Nunca estarei entre meus pares!
Observe que nossa característica intrínseca 
nos compõe solitários e tortos,
como, por deus, iríamos nos agrupar
contrariando nossos níveis de desinteresse 
no que é o outro? No que faz o outro.

Nunca estarei entre os meus pares...

2 de jun. de 2023

Atípico

De repente é tarde.
Desenho olhos confortáveis
psicografando temores sociais 
sobre a folha, sobre o tempo...

O café amargo faz sentido 
quando a vida é doce.
Eu tento adivinhar padrões 
na irregularidade dos sentidos,

sempre mantive cativa
a analogia de que as pessoas 
são particularmente tão complexas 
quanto um universo.

Eu não entendo o universo.