3 de dez. de 2016

Carta I

Antes da palavra não dita, restrita tantas vezes por timidez ou covardia. Antes da lembrança predileta, do mérito incerto. Antes do teu perfume único - exílio embriagador dos teus cabelos limpos. Antes de nascer o dia e da força que impulsiona os corpos ocos e cansados de si mesmos. E aqueles braços que abarcam algum profético desfecho...
Antes de chegar a tarde dolorosamente com a conversa sadia sobre o que foi escrito pelo século passado. Meio cigarro no cinzeiro, o café fresco, os olhares que roubam um do outro o que sabemos que não nos pertence. A mesa com talheres simples e pratos vazios...
Antes de cair o fruto da conquista, da gênese cítrica ao fim amargo. 
Porque não é nem mesmo a palavra ou o silêncio mais duro. Nem as mágoas passageiras, nem as cicatrizes que abrem e fecham feito janelas sem cortina, vendaval...
Porque antes de tudo, meu grande amor, eu era.

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