Hipátia



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Teus olhos decididos descortinam
no quarto da manhã por qual despontas, 
consecutivamente se iluminam
os cômodos, as dúvidas, as contas, 

as mãos que curvam forças rotineiras 
num gole de café, tão soberanas 
traçando movimentos, costumeiras 
à moda proletária das urbanas. 

Avanças sobre a turba nas calçadas, 
munida com teus fones introversos 
que vibram melancólicas porradas
sensíveis aos ouvidos subversos, 

compassam na cidade desmelódica
teus passos que afrontosos recolorem
a boca murchecida e episódica
que diz-nos, tirânica: que implorem!... 

Espreme-te nos vários suprimidos 
vagões convulsionados, transitórios 
espaços permutados e contidos 
no clima que remete ao dos velórios 

de quem trabalhou sempre, tanto a custo 
da própria concordância, subalterno
do que a sobrevivência torna justo, 
presente tão fantástico e moderno

que entendes feito maga, confessora
das práticas belezas, das elipses 
erráticas da Vênus promotora 
que dita a competência dos eclipses

completos, delirantes e dantescos
que só teu ventre pode suceder, 
assim como a palavra volta frescos 
os ventos que te vêm anoitecer

no ponto quando um velho vaticínio
recorda-te dos anos mais escuros, 
passando nos esquadros de alumínio
o filme que remonta teus futuros... 

E voltas desmembrada, convertida 
no afago que com precisão produz
os quadros hemorrágicos da vida
que pulsa por cada rastro de luz.

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