Era um dia normal.
Segunda-feira.
Entrei numas de acender fogueira
pra dançar meu ritual de guerra
com os pés descalços
sobre a terra...
Tomei um litro e meio de sangria,
confundi estupidez com rebeldia,
fui ter com os perdidos amizade
e acreditei que existe a liberdade.
Era um dia normal,
ganhei no bicho.
Fiz do que era santo
um capricho,
comi das flores as cores do odor
e o gosto encheu minha boca de torpor,
deitei nesta clareira morna e mística
como um fauno acometido pela tísica,
enfim, um melancólico enojado
de mim, da distância, do planeta, do Estado...
11 de nov. de 2018
8 de nov. de 2018
Posso ver com total clareza?
até onde os meus braços vão?
da minha boca o calor se afasta,
em minha mente pensamentos são
Emaranhados em espirais doentes...
Terra infértil... abortados brotam
diante da escultura que eu ergui
para o culto dos que se importam...
E arrasto uma memória ruminal
feito inútil e desgraçado animal,
preso numa velha interrogação...
E ciente do que eu não alcanço
ainda sim inconsciente avanço
até meus pés saírem do chão...
até onde os meus braços vão?
da minha boca o calor se afasta,
em minha mente pensamentos são
Emaranhados em espirais doentes...
Terra infértil... abortados brotam
diante da escultura que eu ergui
para o culto dos que se importam...
E arrasto uma memória ruminal
feito inútil e desgraçado animal,
preso numa velha interrogação...
E ciente do que eu não alcanço
ainda sim inconsciente avanço
até meus pés saírem do chão...
10 de set. de 2018
Ando pela calçada da Carioca até a Praça Tiradentes. Meus olhos rasos d'água suja... Penso no completo vazio e quase deixo desabar o ânimo, porque não há vazio completo. Cansei da minha voz macilenta, rancorosa, dos murmúrios internos, mas... sei que não é nada disso.
Procuro poesia nos anúncios pornográficos que se espalham pelos postes e orelhões já obsoletos, mas a poesia é obsoleta. Há travestis lindíssimas que precisam de dinheiro, há instrumentos musicais que são sonho de consumo, há striptease e filmes eróticos a preço de banana, e os cafés antigos sofisticados de poeira, sebos que me sabem desde a infância, há motivo para o desespero.
Aquele coroa de olhar distante... semblante opaco, fronte enrugada... Sento ao seu lado e o acompanho no hábito impuro: "tem isqueiro?"
Examino, sem levantar, o monumento. Que restauração! O velho se despede e enfim deixo acontecer algum tipo novo de choro. Soluço até a derradeira gota.
10 de ago. de 2018
A piada
Quando chorei pela primeira vez
nos braços da mulher que me pariu,
eu já sabia inconscientemente
que é preciso alguma forma de alívio.
Mas depois de tantos anos eu ainda
inconsciente desta forma de parir
serro meus dentes no instante incerto
e procuro um motivo para sorrir.
Vou sorrindo pelos cantos feito louco,
e meu demônio no interior se cala
e devora meu espírito pouco a pouco.
E depois de tanto riso espontâneo,
pego um espelho e examino delirante
a delinquente imagem de um farsante...
9 de ago. de 2018
Gotham
No céu o signo do desassossego
dançando entre as nuvens carregadas,
a noite impera... bélicas trovoadas
cravam o estouro de um baque cego...
Eis o vigilante! O Morcego
no alto do edifício entre as gárgulas,
envolto pelo medo tem seu ego
vingativo... humano... cheio de máculas...
Súbito salta e silva, surpreende
o Louco Clown que ri da sua sorte,
dentro da bruma trava-se o combate!...
Enfim, um punho se ergue e acende
a chama circunstancial da morte...
Ele esita e o Clown grita: "cheque mate!"
dançando entre as nuvens carregadas,
a noite impera... bélicas trovoadas
cravam o estouro de um baque cego...
Eis o vigilante! O Morcego
no alto do edifício entre as gárgulas,
envolto pelo medo tem seu ego
vingativo... humano... cheio de máculas...
Súbito salta e silva, surpreende
o Louco Clown que ri da sua sorte,
dentro da bruma trava-se o combate!...
Enfim, um punho se ergue e acende
a chama circunstancial da morte...
Ele esita e o Clown grita: "cheque mate!"
Sudário
Morreu na esquina da Matoso
com a Dr. Satamini,
nada acontece de novo...
Levaram 3 horas, imagine...
A pele negra sob o pano,
A pele branca sob o pano
sujo...
Havia também um despacho.
Maldita encruzilhada, aqui
não há blues... não há blues! Eu acho...
A pele negra sob o pano,
era Jesus? Era Jesus!
3 horas... e aqueles passantes
vagalumes mórbidos sem luz...
Nada havia, ia acontecendo...
(E quando o vi fui me estremecendo.)
"Era o Zé? Era o Zé!"
Ai dos homens de grande fé!...
3 horas infindas...
o recolheram perto das 11...
Ficando somente o despacho:
vela vermelha, cachaça e rosa...
*
Resvalou-se a turba curiosa
pelo ralo escoador de populacho...
com a Dr. Satamini,
nada acontece de novo...
Levaram 3 horas, imagine...
A pele negra sob o pano,
A pele branca sob o pano
sujo...
Havia também um despacho.
Maldita encruzilhada, aqui
não há blues... não há blues! Eu acho...
A pele negra sob o pano,
era Jesus? Era Jesus!
3 horas... e aqueles passantes
vagalumes mórbidos sem luz...
Nada havia, ia acontecendo...
(E quando o vi fui me estremecendo.)
"Era o Zé? Era o Zé!"
Ai dos homens de grande fé!...
3 horas infindas...
o recolheram perto das 11...
Ficando somente o despacho:
vela vermelha, cachaça e rosa...
*
Resvalou-se a turba curiosa
pelo ralo escoador de populacho...
8 de abr. de 2018
Testamento
Deixo uma salva de palmas,
deixo um relicário de almas,
deixo uma noite de calmaria...
Mas exijo! Queimem prosa e poesia!
deixo um relicário de almas,
deixo uma noite de calmaria...
Mas exijo! Queimem prosa e poesia!
Romantismo
I
Corria para o quarto do meu avô. Observava, atento, o ninho de pombos da janela... arrulhavam...
Nas mãos um segredo - réstias de pão. Depois do café sempre tinha uma bossa na vitrola, variava entre o Tom e o João, mas eu gostava, digo, eu esperava o sábado, porque o sábado era dia do Chico. Tia Raquel vinha com minhas primas, com seu 7 cordas, seus dedilhados. Então o mundo era dividido ao meio, portais de luz se abriam...
II
No terraço havia uma locomotiva. Eu, gigante cruel e demoníaco, trucidava fileiras de soldados de chumbo, barcos de jornal, cacos de tijolo. Nada sobre os trilhos de plástico escapava a seu destino catastrófico... eu só os tinha até a hora do almoço.
III
Pois, imagine! Certo dia, após o culto, voltamos de ônibus para casa. Ficamos com os bancos do fundo, onde, naquela época, era cadeira cativa de fumantes.
E lá estava um. Meus pais cochichavam reprovações como passarinhos trocam vermes, um para o bico do outro. Era um tipo esguio de olhos fundos e claros, pálido... o cigarro dependurado nos lábios, braços cruzados, pernas esticadas...
Trocamos algumas palavras que não recordo. Segundo dizem, convenci o transgressor do pecado cometido, não aquele contra a sua integridade pulmonar, mas o outro, o mais importante! O incômodo aos outros passageiros.
Depois desse dia uma idéia começou a sapatear com suas pernas de aranha na minha cabeça de vidro e qualquer fumante que eu via tornava-se um possível amigo.
Gárgula
Tudo observo do meu lugar altivo,
por mim escoam frias lágrimas celestiais
límpidas e lhanas... Não estou vivo,
nada abala a solidão dos ideais
que na pedra foram eternizados...
Quem há de suportar minha aparência;
aspecto de horríveis gritos dados
em estado de rochosa decadência?
Seis da noite, dobram sinos de bronze,
eu testemunho um crime ao longe... Vejo
amantes encontrarem-se num beijo...
................................................................
Nada transpassa o meu degredo frio,
e para sempre cativo silencio...
por mim escoam frias lágrimas celestiais
límpidas e lhanas... Não estou vivo,
nada abala a solidão dos ideais
que na pedra foram eternizados...
Quem há de suportar minha aparência;
aspecto de horríveis gritos dados
em estado de rochosa decadência?
Seis da noite, dobram sinos de bronze,
eu testemunho um crime ao longe... Vejo
amantes encontrarem-se num beijo...
................................................................
Nada transpassa o meu degredo frio,
e para sempre cativo silencio...
Matinal
A vida tem sentido
pra essa velha branca
varrendo sua calçada,
vestida de pelanca...
Eu passo vagaroso
e invejo sua calma,
meu corpo se arrepia
e entedia a minha alma...
pra essa velha branca
varrendo sua calçada,
vestida de pelanca...
Eu passo vagaroso
e invejo sua calma,
meu corpo se arrepia
e entedia a minha alma...
11 de mar. de 2018
Quando do tempo menos se espera
o ato final de uma vida inteira,
eis que acontece - chega a nova era
e o vento nos espalha em poeira...
Hoje não há "luz que se apaga",
nem uma imagem pobre de matriz,
não há um olhar claro que se alaga,
tão pouco um recital mais infeliz...
Que nome em tua boca vai dormir
silenciosamente resguardado?
Nenhum Caronte vai me conduzir
praquilo que me tem angustiado?
Três dezenas de estrelas reluzentes
que aos risos pelo cosmos fundem átomos...
Quando as vejo - meus olhos transparentes
refletem a minha Ilha de Patmos.
Despido... tribunal... o alarde clama
e crepita em minha pele faiscante,
vem a lembrança de quem me ama
e nada mais que isso é importante...
o ato final de uma vida inteira,
eis que acontece - chega a nova era
e o vento nos espalha em poeira...
Hoje não há "luz que se apaga",
nem uma imagem pobre de matriz,
não há um olhar claro que se alaga,
tão pouco um recital mais infeliz...
Que nome em tua boca vai dormir
silenciosamente resguardado?
Nenhum Caronte vai me conduzir
praquilo que me tem angustiado?
Três dezenas de estrelas reluzentes
que aos risos pelo cosmos fundem átomos...
Quando as vejo - meus olhos transparentes
refletem a minha Ilha de Patmos.
Despido... tribunal... o alarde clama
e crepita em minha pele faiscante,
vem a lembrança de quem me ama
e nada mais que isso é importante...
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