1
Chega o trem. Não há lugar.
Uma após outra as estações...
Cotidiano. Objetivo.
De quando em quando
um peixe entre as redes sociais -
Sobre esses palcos nós somos
as vítimas das comparações.
Que pena. Não há lugar.
Chega ao trabalho. Bate o ponto.
Tudo é normal, tudo. Tudo é tão barulhento.
Tudo é tão mudo.
Não há lugar.
Está sorrindo, comendo, fodendo...
Está dançando e cantando, lendo, estudando...
Está mamando um estranho miserável,
está bebendo todas e como antes
chega o fim de semana. Bate o ponto.
Não há lugar?
Em casa dorme e sonha,
acorda e banho, café e sai.
E chega o dia do salto e quem diria;
não era ela "a feliz"?
2
Então é a fama isso. O sucesso aquilo.
Todas as drogas, todos os vícios.
Novos paraísos efêmeros, alegorias
aos seus pés de barro...
O vazio - o deus cansado, irmão
do tédio, da doença e do fim.
E a solidão traz a bandeja dos fracassos
para servir a sua alteza inútil.
E de repente, sem mais...
Logo ele que tinha tudo. Todas as drogas.
Todos os vícios...
3
Foi previsível. Depois da traição,
da vergonha, do medo.
Depois de ser enxotado - um cachorro
sem previsão de nada. Depois
de todo aquele drama infinito e cômico.
Toda a família esperava.
Seria o quê?
Um tiro? Overdose? Veneno?
A corda e um nó?
Não teve graça. Só isso.
Nunca tem.
4
Sempre uma foto. Uma frase.
Ela desafia o limite do positivismo.
Que ingênua! Eles julgam.
A herdeira das máscaras carnívoras
que mastigam suas faces decadentes.
Sempre um bem adquirido, valores
da família de bens. Outro álbum
impoluto e branco sobre a mesa,
outra carreira de pó adquirida
e o coração sedento
por desejo mais humilde
cede ao fim.