Lembrar de não distribuir poesias.
Ninguém gosta de panfletagem...
além de sujar a cidade, suja
também qualquer dignidade.
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Abolir a escravatura das interjeições.
Abolir a escritura das presunções.
Abolir a contextura das abolições.
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Compartilhar um quadro de Van Gogh
só pra dar pinta de que sei de tudo.
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Comparar-me a um bode
ou a um ipê amarelo desnudo.
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Rimar amor dor flor calor cor
senhor torpor sabor penhor labor
tambor suor louvor transgressor
com Nabucodonosor...
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Fazer um solene juramento
ao deus que assobia o vento.
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Não encher o saco comigo mesmo.
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Andar mais a esmo.
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Proibir cigarros coadjuvantes.
Merecem um papel mais fino.
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Ter a canalhice de cantar um anjo no Juízo Final.
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Pegar um taxi e pedir ao condutor
que me deixe na esquina do Tempo.
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Ensinar a um vira latas
qualquer coisa em latim.
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Aprender o uso dos porquês
antes do desuso do português.
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Praticar tiro ao alvo no bico de um seio.
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Nunca tirar um brinquedo de uma criança,
assim como não exteriorizar meu ateísmo.
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Roer meu osso sem rosnar para outros cães.
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Dormir pra sempre.
Acordar pra nunca.
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Pedir perdão por ter chegado com vontade de partir.
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...pedir perdão porra nenhuma.
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Ver-me um verme.
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Não terminar sonetos com versos de ouro...
que tá na moda a ostentação.
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Não dedicar poemas.
É constrangedor para as 3 partes.
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Não compor esdrúxulos que caiam na significação popular.
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Não explicar poemas. Antes nem escrevê-los.
Um poema não se explica nem para a mãe.
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Consultar o oráculo de Apolo
no templo da Quinta da Boa Vista.
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Trabalhar duro,
descansar mole.
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Ser vulgar sem ser sexy.
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Em caso de um dia acordar morto, seguir minha rotina como se nada tivesse me acontecido.
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Parar com as drogas, sobretudo a pior, que é ver TV.
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Parar de não fumar.
*
Parar.
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