3 de dez. de 2023

Quem vai apagar a luz

I

Deitados os dois, o quarto acesso, tarde da noite, sono, cansaço, apocalipse... Ela levanta, questiona, sustenta a hipótese que traz à tona um trauma; o descaso, o desprezo, como alguém enjoasse de alguém como muda o sabor de gelatina, vídeos de coach de relacionamentos, repete frases, nada mais verdadeiro testifica esses tempos líquidos. 
Trouxe água gelada. Bebemos.
Cada vez mais tenho citado Bauman sem ter lido um só livro. A filosofia do meme, eu sei ser ridículo. O medicamento vai despedaçando em cacos os meus vitrais interiores e todas as artes sacras hora sorriem, hora choram na minha capela. 
Um beijo matutino, gosto de café... Tenho me acostumado a esconder o caos. Onde estará? Talvez tecendo sua teia no mofado do cérebro, alimentando sombras silenciosas. O caos, onde andará seu passo lúgubre?...
Apaga a luz, amor, mais perto do teu lado da cama.

II

Passeio pelo domingo musical. "Every day is like sunday..." Eu me recuso ao cinza. Bonito, senhor Morrisey, sua tristeza cai bem nessa estética oitentista, mas o Smiths nunca mais vai voltar!!(?) Não, nem o Joy Division. (Risos)
Uma raposa correu pelas escadas, ligeira, ligeira, no caminho um gato preto, todo ele cicatriz, conversador canalha e boêmio, né? 
"Já ouviu Ella Fitzgerald? 1957! Que ano!"
Jazz é coisa fina. Uma ova! Cada um ouve o que quer. 
Já já escurece, mas antes tem esse sépia filtrado pelos óculos. 
Então aí está o caos. Criança da noite. Enquanto há silêncio eu me deleito com a trégua, é pausa na comédia. Um espaço para suspirar e contemplar o verde do vale. Domingo de música, teatro sem drama.

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