31 de dez. de 2023
Casa Amarela
15 de dez. de 2023
Carta VIII
13 de dez. de 2023
Desenhos da Infância
10 de dez. de 2023
Carta VII
9 de dez. de 2023
Avulsos Atípicos IV
8 de dez. de 2023
Coração
3 de dez. de 2023
Quem vai apagar a luz
27 de nov. de 2023
Cheio
24 de nov. de 2023
Vazio
Ao Cavar
21 de nov. de 2023
Carta VI
20 de nov. de 2023
Clonazepam
17 de nov. de 2023
Transi
7 de nov. de 2023
Avulsos Atípicos III
26 de out. de 2023
Doppelgänger
20 de out. de 2023
Para o Náufrago
16 de out. de 2023
Parque Shanghai
13 de out. de 2023
Chá de ervas
8 de out. de 2023
Meus 8 anos
3 de out. de 2023
Alvejante
2 de out. de 2023
27 de set. de 2023
Construção
18 de set. de 2023
Um jardim esquecido
8 de set. de 2023
Carta V
Olá, querida. Escrevo-te outra vez desta alcova enfeitada de múltiplas sinapses. Reflexivo fico a remoer o sentido da sua bondade. Não sabes, mas és inexistente! Mesmo propícia ao toque, és a imaginação provável da persona que se evadiu dos contos angelicais.
Acompanho daqui os feitos sublimes do teu intelecto. Que bençãos tuas mãos, quando disforme meu corpo contorcia cada músculo, quando era adicto de um prazer desumano, a cabeça em golpes descontrolados, as manchas do impacto da culpa nas paredes acostumadas ao silêncio, ao vazio do espaço.
Que milagre tuas mãos. Quando o desejo de romper com a ordem levanta a horda de poetas cadáveres elusivos. O convite para dança, o contágio da música de Kali. Eu que não sei dançar, arrisco?
Nunca poderás me perdoar, pois eu duvido. Sonhar-te real sob a abóbada celeste é dolorido. Tu, encrustada do que me foi negado, não compreendes quão grave é a maldição desse estado.
O quanto ainda pretendo lamentar enquanto a vida derrama sobre lábios preteridos o mel ideal dos sonhos?
Que horror as suas mãos de acalento enquanto anseio o destino punitivo onde alimento meu adorável monstro.
19 de ago. de 2023
Shutdown
Não é como um sentimento isolado. Um desconforto de espinho. Nem a dor de uma resposta sensorial ao tempo. Abro uma cova e enterro o fantoche da circunstância em que me encontrei. Desmebrado em mentiras cotidianas, esquivas emocionais que me garantiram um tempo a mais num ambiente onde o prazer é propor meios para ser violentado.
Sempre aludindo aos restos, à margem da significância: um quase qualquer. No cativeiro da aleatoriedade cultivo inúmeras questões, no mesmo grupo enumero motivos para sorrir e as origens do universo. O açoite da Questão vai tatuando caminhos vermelhos sobre a pele daquilo que não é a alma, mas é o ter uma alma: talvez a essência plural dos que acreditam.
Que presunção é exemplificar! Quando toda palavra é somente a intermediária da vontade.
Seria simplória a resolução do infortúnio se a falta de ter algo fosse apenas a opositora do alívio. O caos torna eterna a realidade que o toca. Tudo é múltiplo.
Já pensei ser a vida o epicentro desse vórtice de insignificância, uma vida que se oculta atrás de uma porta sem chave - cabe a quem inventar essa chave?...
Com minha imagem antigeométrica tomo assento numa cadeira deslocada do tempo, meu olhar distante procura um vislumbre sempre a frente, enquanto me desfaço rastro de luz, preso a um passado punitivo.
Quem me dera a inércia imaterial do vazio, entretanto, transbordo as probabilidades dos fatos, no mesmo segundo que pretendo o objetivo de um toque, também cogito amputar minhas próprias mãos.
O que me aflige é a incerteza das coisas. A dúvida primordial, o infinito. Eu, que não posso me calar, que não posso dizer não e me negar a responder. Tenho que me entalhar conforme a norma - madeira pútrida, sem viço. Eu que vivo para significar o que para ti é simplesmente estar vivo.
Eu que sonho nunca ter existido.
6 de ago. de 2023
Carta III
28 de jul. de 2023
Masking
Bioma
18 de jul. de 2023
15 de jul. de 2023
Avulsos Atípicos II
12 de jul. de 2023
Avulsos Atípicos
25 de jun. de 2023
8 de jun. de 2023
7 de jun. de 2023
2 de jun. de 2023
Atípico
15 de mai. de 2023
12 de mai. de 2023
Anedonia
Calado
o mais grave e lúcido cuidado...
Há muito que tudo me ensina
4 de mar. de 2023
Do Caos
Dancei com soldados no vale da Morte,
tornei-me despojo, tesouro e consorte
do sangue aspergido, do velho transporte,
meu corpo era o nada no centro do Caos...
Eu tive nas mãos a humana trindade:
a Dor, a Esperança e a Finalidade.
Ouvi o seu canto, ergui sua cidade
altiva e suspensa nas nuvens do Caos...
Da vinha do tempo colhi meu compasso,
bebi do silêncio discreto e devasso
do fim da canção que vibrava no espaço
o som do meu nome nas cordas no Caos...
Dormi com vencidos no jardim da Vida,
um servo da lágrima por cada caída
e em todo levante era mais despedida
no adeus do horizonte de eventos do Caos.
22 de fev. de 2023
18 de fev. de 2023
2 de fev. de 2023
Chevra Kadisha
dentro de uma sentença reduzida
a uma descrença desequilibrada,
toda letra foi lida e pronunciada,
tudo que é sonoro foi soado
e o que se deu ao uso foi usado.
Toda tristeza é hereditária
e essa saudade latifundiária
do que nunca foi verdadeiro e meu,
eu acho que nem mesmo aconteceu
o anoso mistério que foi revelado
do que era evidente e significado.
Tudo que é dor é indiferente
à delicadeza do amor contundente,
e o líquido amparo da alma é inútil,
nem mesmo a poesia pouco sutil
te diz o que é teu e então te conduz
a qualquer ímpeto de morte ou de luz.
E tudo regido pelo discernimento
se mistura e se funde ao conhecimento,
nada mais é firme aos pés cambaleantes
e nem mesmo a jura eterna dos amantes
pode enfim traduzir da língua mais ufana
o horror de pertencer à espécie humana.
30 de jan. de 2023
e arrasto o olhar
para fora do meu corpo,
minha alma reproduz um estalar
de dedos a cada ápice, num ritmo
quase vitorioso. Quem dera
ser em mim legítimo
o emprego dos dentes,
no entanto, só recebo notícias
de um correspondente impreciso...
E me espalho
salvando as migalhas de fome,
a última luz, nobre, morre...
o sonho
era apenas um nome
dado ao que foi impalpável -
onde as mãos sempre inconstantes
abarcam todas as distâncias dos céus.
29 de jan. de 2023
Carta II
Não me vês. Qual o sentido de mentir quando a obviedade dos fatos é tão sólida e fria? Ah, quanto mistério faz ninho nessa árvore hirsuta da consciência humana!
Não me vês contorcer os neurônios em busca de silêncio de mim, de alívio de ser - alienígena! Desprezado o signo da minha alma reclama o que nunca foi promessa em sua voz.
Outrora a juventude resplendia o dulçor da novidade quente, instigante. Como era pobre e insignificante a existência que se mantinha firme em meus cadernos velhos, debatidos.
Nunca me viste. O que pensavas ser capaz de emoldurar na tua visão ideal? Algum nativo, idílico e selvagem, cantando palavras de ordem e coragem, olhos em chamas, músculos vibrantes rítmicos, gargantas aos berros nas fileiras da ânsia primeva do combate?!
Não me lês. É fato, mas não desanimes. Nem me julgues ingênuo a ponto de te crer desperta enquanto amputo em convicta mudez essas e outras orações.
que intenso brilhar!
Noite nua,
quero te namorar...
Cai a estrela,
vem comigo sofrer...
Da janela,
o vento vem dizer:
"Liberdade,
sem prova de valor,
sei que há de
haver algum amor!"
*
Brilha, Lua.
Que inútil seu luzir...
Nessa rua
sozinho vou latir,
sem contexto
e nada a oferecer,
sem pretexto
até para morrer.
28 de jan. de 2023
Bilhetes de geladeira
Ninguém gosta de panfletagem...
além de sujar a cidade, suja
também qualquer dignidade.
*
Abolir a escravatura das interjeições.
Abolir a escritura das presunções.
Abolir a contextura das abolições.
*
Compartilhar um quadro de Van Gogh
só pra dar pinta de que sei de tudo.
*
Comparar-me a um bode
ou a um ipê amarelo desnudo.
*
Rimar amor dor flor calor cor
senhor torpor sabor penhor labor
tambor suor louvor transgressor
com Nabucodonosor...
*
Fazer um solene juramento
ao deus que assobia o vento.
*
Não encher o saco comigo mesmo.
*
Andar mais a esmo.
*
Proibir cigarros coadjuvantes.
Merecem um papel mais fino.
*
Ter a canalhice de cantar um anjo no Juízo Final.
*
Pegar um taxi e pedir ao condutor
que me deixe na esquina do Tempo.
*
Ensinar a um vira latas
qualquer coisa em latim.
*
Aprender o uso dos porquês
antes do desuso do português.
*
Praticar tiro ao alvo no bico de um seio.
*
Nunca tirar um brinquedo de uma criança,
assim como não exteriorizar meu ateísmo.
*
Roer meu osso sem rosnar para outros cães.
*
Dormir pra sempre.
Acordar pra nunca.
*
Pedir perdão por ter chegado com vontade de partir.
*
...pedir perdão porra nenhuma.
*
Ver-me um verme.
*
Não terminar sonetos com versos de ouro...
que tá na moda a ostentação.
*
Não dedicar poemas.
É constrangedor para as 3 partes.
*
Não compor esdrúxulos que caiam na significação popular.
*
Não explicar poemas. Antes nem escrevê-los.
Um poema não se explica nem para a mãe.
*
Consultar o oráculo de Apolo
no templo da Quinta da Boa Vista.
*
Trabalhar duro,
descansar mole.
*
Ser vulgar sem ser sexy.
*
Em caso de um dia acordar morto, seguir minha rotina como se nada tivesse me acontecido.
*
Parar com as drogas, sobretudo a pior, que é ver TV.
*
Parar de não fumar.
*
Parar.
27 de jan. de 2023
quem teu cantar minguou
e derrubou seu ninho?
Foi a chuva que magoou
tua asa estranha e torta
impossível de alçar vôo?
Pia teu canto, que importa
as queixas da tempestade,
o vento cruel que te corta?...
Pia, que da mocidade
nada mais fica que a mancha,
um borrão na eternidade
que tão fácil se desmancha...